domingo, 6 de outubro de 2013

Ferrovias de Usinas em Jaboatão e Moreno

Por James Davidson


Maria Catita


Os municípios do Jaboatão dos Guararapes e do Moreno já possuíram, cada um, mais de 40 engenhos de cana-de-açúcar, cada um com sua fábrica e produção própria. Porém, no final do século XIX, iniciou-se um processo de modernização da produção açucareira, através da criação das usinas e dos engenhos centrais. A usina consistia num processo de produção mais moderno, em escala industrial, que demandava uma quantidade de matéria-prima muito maior que o simples engenho. Assim, os engenhos que não se transformaram em usina, acabaram virando apenas fornecedores de cana, ficando de "fogo morto". Esse processo de transformação da produção açucareira não foi uniforme em todas as regiões, mas até a metade do século XX, todos os engenhos do Vale do Jaboatão já estavam na dependência de alguma usina de açúcar.

Ruínas da Usina Jaboatão

Para atender a demanda por mais matéria-prima, ou seja, por mais cana-de-açúcar, a usinas adotaram inicialmente o transporte ferroviário como alternativa mais viável e econômica. Assim, ainda no final do século XIX, iniciou-se a construção de ferrovias ligando as usinas aos vários engenhos que forneciam cana. As três usinas que se instalaram em Jaboatão - Jaboatão, Muribeca e Bulhões -tinham seus ramais ferroviários que as ligavam aos engenhos de sua área de influência e que também se comunicavam com as ferrovias públicas estatais. Vejamos cada uma delas.

Município de Jaboatão - Enciclopédia dos Municípios/IBGE

A Usina Muribeca foi uma das primeiras usinas a ser criada no Estado de Pernambuco. Situada em terras do Engenho Recreio, funcionou até 1965, quando abriu falência. Suas terras foram loteadas e hoje formam diversos bairros da área de Muribeca. Pertenciam a esta usina os engenhos Guararapes, Recreio, Conceição e São Severino, além de arrendar safras de vários outros engenhos vizinhos. Possuía dois ramais ferroviários. O primeiro partia da Usina e seguia por 4 quilômetros em direção leste até o Engenho Guararapes, enquanto o segundo seguia em direção contrária, no rumo oeste, partindo da mesma usina e atravessando os engenhos Recreio, Conceição e São Severino, para depois se unir à ferrovia da Usina Jaboatão. Parece ter existido também, além destes, dois outros ramais ferroviários dos quais um seguia em direção sul, atravessando o Rio Jaboatão e passando pelo Engenho São Bartolomeu, seguindo até as pedreiras de Comportas. O outro seguia em direção oeste, pelo vale do Rio Muribeca, unindo os engenhos Muribequinha, Capelinha, Salgadinho e Camarço.

Município do Moreno - Enciclopédia dos Municípios/IBGE

A ferrovia da Usina Jaboatão era ligada com a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, no ponto conhecido como "Estrela", em Jaboatão Centro, na antiga Praça dos Caçadores. Seguia daí pela rua Câmara Lima (Beco da Colônia) até a sede da Usina Jaboatão, onde se bifurcava em dois ramais. O primeiro descia pelo Riacho Suassuna até se encontrar com a ferrovia vinda da Usina Muribeca. O segundo subia o mesmo riacho em direção aos Engenhos Palmeiras e Macujé. Antes, porém, formava um novo ramal, na altura da Colônia Salesiana, que seguia em direção ao sul e que veio a ser o principal tronco ferroviário da Usina Jaboatão. Este ramal ferroviário seguia até o Engenho Penanduba, onde tomava o rumo oeste, atravessando os engenhos Camarço e Secupema. Penetrava no município do Moreno em terras do Engenho Canzanza, seguindo daí em diante pelos engenhos Caraúna e Gameleira até chegar no Engenho Javunda, num percurso com mais de 16 quilômetros! Do Engenho Javunda saía ainda um pequeno ramal ao norte até a metade do caminho para o Engenho Pereiras, e outro ao sul que se comunicava com a ferrovia vinda da Usina Bom Jesus, no Engenho Cumarú.

Município de São Lourenço da Mata - Enciclopédia dos Municípios/IBGE

Já o domínio canavieiro da Usina Bulhões era mais ao norte, penetrando no território de São Lourenço da Mata e chegando até o Povoado de Matriz da Luz. Seu início era na Estrada de Ferro Central, diante da Usina, em Jaboatão Centro, seguindo em direção norte pelo vale do Rio Duas Unas até a sede do Engenho Camassary, onde tomava o rumo oeste pelo vale do mesmo rio. No encontro dos rios Duas Unas e Pixaó, a ferrovia da usina Bulhões se bifurcava. O primeiro ramal continuava pelo Vale do Rio Duas Unas passando pelos engenhos Pocinho e Una, onde aparentemente terminava neste último (talvez prosseguisse até o Engenho Pacoval). O segundo ramal seguia pelo Vale do Rio Pixaó em direção noroeste até o Engenho do Mato, onde novamente se bifurcava em dois sub-ramais. O primeiro seguia ao norte pelo Engenho Curupaity e terminava no Povoado de Matriz da Luz. Já o segundo, prosseguia pelo Vale do Rio Pixaó até o engenho homônimo, onde tomava o rumo oeste, seguindo até a nascente do rio. Atravessava o divisor de águas entre o Pixaó e o Várzea do Una, e seguia por mais sete quilômetros atravessando os engenhos Covas, Araújo, Poço Dantas e Várzea do Una, onde terminava. Em sua maior extensão, a ferrovia da Usina Bulhões alcançava até cerca de 20 km de extensão.

Usina Bulhões - hoje falida

Penetrava ainda no município do Moreno a ferrovia vinda da Usina Bom Jesus, sediada no município do Cabo. Subindo o Vale do Rio Gurjaú, atravessava os engenhos São Braz, Monte, Jacobina e Coimbras, sempre na margem do Rio Gurjaú que pertence ao município do Cabo, para daí ir aos Engenhos Gurjaú de Baixo e de Cima, já em território morenense. Neste último engenho, a ferrovia se bifurcava, indo um ramal para o Engenho Cumarú, onde se encontrava com o ramal vindo da Usina Jaboatão. O outro ramal seguia em direção ao Engenho Novo da Conceição, vindo a terminar em Cajabussu. No Engenho Novo saía ainda um pequeno ramal, por um riacho, até a localidade conhecida como "Os quadros".

Vista aérea da Usina Jaboatão

Como é possível perceber, estas ferrovias ligavam quase todos os engenhos e era possível percorrer grandes distâncias de um município a outro. Facilitava não só o transporte da cana, mas também dos moradores dos engenhos que se beneficiavam das ferrovias para ir ao trabalho e para a cidade. Muitos utilizavam "trollers" para se locomover, o que às vezes causava acidentes. Todo o vale dos rios Duas Unas, Gurjaú e Muribeca estavam conectados e podía-se ir de Muribeca a Matriz da Luz sem grande problemas. Hoje, porém, nenhuma dessas linhas mais existem e os trilhos foram todos arrancados e/ou roubados. É possível encontrar, às vezes, um ou outro trecho aqui e ali, e alguns trilhos constituem colunas de algumas casas de moradores. Há ainda uma pequena locomotiva parada na Usina Bulhões. Mas o que levou ao desaparecimento dessas ferroviais?

Ruínas da Usina Muribeca

O mesmo processo que se verificou com as ferrovias públicas parece ter ocorrido com as ferrovias privadas das usinas: o favorecimento do transporte rodoviário em detrimento do ferroviário, a partir das décadas de 60 e 70. Algumas ferrovias foram destruídas logo após o fechamento da usina, como foi o caso da Usina Muribeca, mas nos demais casos mesmo com o prosseguimento das atividades os trilhos foram arrancados, em meados da década de 80. Simplesmente porque os caminhões passaram a ser preferência para o transporte da cana e não interesse alguns dos proprietários em manter os trens. Com isso, o que seria no futuro uma grande oportunidade de transporte alternativo de passageiros simplesmente desapareceu!

Locomotiva na Usina Bulhões


domingo, 29 de setembro de 2013

Memórias Destruídas na Bienal do Livro

Por James Davidson

Caros leitores e leitoras do Blog Jaboatão dos Guararapes Redescoberto

Saudações

Venho através deste site convidá-los para o (Re)Lançamento do meu livro Memórias Destruídas - A história do Patrimônio Destruído de Jaboatão dos Guararapes - a ser realizado próximo dia 08 de Outubro (terça-feira), às 16:00, na Bienal do Livro de Pernambuco, no Centro de Convenções de Pernambuco. O livro será vendido ao custo de R$ 10,00 e conto com a participação de todos os leitores do blog! Até lá!




domingo, 30 de junho de 2013

Ruínas da Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Muribeca

Por James Davidson



As ruínas da Igreja do Rosário dos Homens Pretos ficam localizadas no Povoado de Muribeca dos Guararapes, município de Jaboatão dos Guararapes. Situada na parte mais baixa do povoado, no extremo sul da Rua da Matriz, a igreja fica no lado oposto à Igreja Matriz do povoado, também sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. Sua condição de ruínas é um dos aspectos mais característicos e peculiares da localidade.


O povoado de Muribeca data do primeiro século de colonização em Pernambuco – século XVI, sendo um dos principais centros açucareiros da antiga Capitania de Pernambuco. Chegou a possuir cerca de 20 engenhos de cana-de-açúcar, ocasionando uma grande presença de mão de obra escrava africana na localidade. Os escravos africanos, trazidos de diversos lugares do continente africano (Guiné Bissau, Costa da Mina, Benguela, Congo, Cabinda, Angola e Moçambique) possuíam línguas diferentes, costumes diversos e crenças religiosas particulares de cada povo e região. Porém, para sobreviver e resistir à dor do cativeiro e à distância de seus parentes e de sua terra natal, os escravos e negros livres tratavam de se organizar em irmandades religiosas católicas, tais como as irmandades do Rosário dos Homens Pretos.




As irmandades do Rosário dos Homens Pretos eram agremiações religiosas presentes nos lugares onde havia abundância de escravos. Seu objetivo era unir os escravos e os negros livres em sua nova terra, tanto para a ajuda mútua entre seus membros, como para expressar seus anseios por liberdade. As irmandades também representavam uma forma de resistência cultural à escravidão e à dominação do homem branco, pois apesar de seguirem os ritos da religião católica, muitas de suas manifestações eram de origem africana. Entre estas, pode-se citar a presença de danças, batuques, símbolos religiosos e a tradicional coroação do Rei e Rainha do Congo.


A coroação do Rei Congo ou Congada era uma celebração realizada durantes as festas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que aconteciam no mês de outubro. Neste evento, eram escolhidos, entre os negros presentes, um rei e uma rainha que iriam exercer uma jurisdição simbólica sobre seus súditos. Remetendo a muitos dos mesmos rituais religiosos realizados na África, seguiam em procissão com arqueiros à frente, calungas enfeitadas, símbolos religiosos, com músicas e danças e outras manifestações culturais que dariam origem futuramente ao Maracatu.


Apesar de pobres e dos recursos limitados, e muitas vezes, à despeito de sua condição de escravos, os membros das irmandades do Rosário construíam suas próprias igrejas, se possível, tão ricas e ornamentadas como as construídas pela elite branca. Para isso, trabalhavam arduamente produzindo objetos para serem comercializados, cujas rendas eram remetidas às obras, como também pelo serviço voluntário e aquisição de esmolas. Sobre isso, assim nos fala o Padre Loreto Couto: “Os homens pretos, e captivos se mostrão tão affectuosos amor e serviço da May de Deos, a Senhora do Rosario, que elles mesmos ainda que pobres, se lhes resolverão a fundar huma fermosa Igreja, em que são elles os fundadores e administradores.” Sobre as missas realizadas nas igrejas do Rosário ainda diz o mesmo autor: “Todos os dias do anno sem que os estorve algum acontecimento catão o terço com ladainha. Nos sabbados cantão a canto de órgão a ladainha as sinco horas da tarde, e as sete da noite o terço.” Sobre a Festa de Nossa Senhora do Rosário ainda diz:” Na segunda dominga de outubro festejam a Senhora com grande solemnidade e para mayor fervor de sua devoção, formão danças, e outros lícitos divertimentos, com que devotamente alegrão o povo.”


Não se conhece a data exata de construção da Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Muribeca, porém provavelmente é do início do século XVIII. A primeira referência sobre sua existência é do ano de 1774, quando é citada na Idéia da População da Capitania de Pernambuco, onde o templo aparece ao lado da Igreja de São Gonçalo e da Matriz do Rosário. Em 1821, é citada por James Henderson em sua obra “A History of Brazil” como sendo uma ermida de mesmo nome da Igreja Matriz. Também é citada sua existência em 1863 por Manuel Honorato em seu dicionário sobre a Província de Pernambuco. A partir do final do século XIX, não há referências sobre o templo, como também não se conhece quando nem por quê entrou em decadência e abandono até ficar em ruínas.


No ano de 1954, durante as comemorações do 300° aniversário da Restauração Pernambucana, foi celebrada uma missa na Igreja do Rosário dos Pretos de Muribeca. A cerimônia foi conduzida pelo padre da Paróquia de Jaboatão Aurino Caracciolo e o evento contou com a presença de políticos como o prefeito Humberto Barradas e senador Jarbas Maranhão. O templo já se encontrava no estado de ruínas na ocasião.



A Igreja do Rosário dos Homens Pretos de Muribeca encontra-se em processo de tombamento a nível estadual pela FUNDARPE, assim como o Povoado de Muribeca dos Guararapes. Também está tombada a nível municipal pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes.


sábado, 4 de maio de 2013

Feliz Aniversário Jaboatão!

Por James Davidson

Em homenagem ao aniversário de 420 anos de Jaboatão dos Guararapes, nossa querida e amada cidade, berço da nacionalidade brasileira, com seus séculos de história e de passado grandioso, uma seleção de imagens das diversas paisagens do nosso município! Afinal, são seis anos de trabalho e labor em prol do município através desse blog! Parabéns Jaboatão dos Guararapes! Que nossa cidade venha a superar as dificuldades ainda existentes para poder dar uma vida melhor para cada jaboatonense! Parabéns Jaboatão!