Por James Davidson
Várias enchentes do Rio Jaboatão ficaram marcadas na história e na memória popular. As enchentes ou cheias, como também são chamadas, afligem a faixa úmida do Estado de Pernambuco há vários séculos. Desde meados do século XIX que se tem registro de algumas delas, ocasionando vários estragos para as pessoas, localidades e trechos atingidos. A cheia de 1843 foi a primeira enchente do rio Jaboatão que encontramos registros, mas outras enchentes também ficaram marcadas na memória local. Destaque para a cheia de 1930, a enchente dupla de 1961 e 1962, a cheia de 1965 (uma das maiores), a cheia de 1990, de 2000 e de 2005. Algumas enchentes foram provocadas apenas pelo rio Duas Unas, outra pelo Rio Jaboatão, enquanto outras atingiram ambos os cursos d'água.
Mais recentemente, a Cidade do Jaboatão foi atingida por uma de suas maiores enchentes. No dia 28 de maio de 2022, chuvas torrenciais provocaram o transbordamento dos rios Jaboatão, Duas Unas, Manassu e outros afluentes menores. O Rio Jaboatão transbordou atingindo alguns bairros da Cidade do Moreno - Galinha D'água e Cambonge, atingindo também o Centro de Jaboatão - Campo da Bulhões, Moenda de Bronze, Rua Azul e Diomedes Valois. Todavia, foi o seu afluente Duas Unas que ocasionou maiores estragos.
O Rio Duas Unas começou a subir depois das 8 horas da manhã, após intensas chuvas que ocorreram durante a madrugada. Vertendo desde a última quarta-feira, a Represa de Duas Unas já estava em sua capacidade máxima, formando o seu barramento uma imponente cachoeira. O primeiro bairro atingido foram as Malvinas, principalmente nas ruas Belo Jardim, Araripina, Gravatá, Ipojuca, Catende e Arcoverde, entre outras. O Campo do Vila Nova e a antiga sede do Engenho Duas Unas se transformaram numa imensa correnteza, cujas águas foram desviadas naturalmente para a Praça da Rebeldes do Samba e Rua 13 de Maio, no Centro de Jaboatão. Nesta última, a força da correnteza destruiu várias casas, chegando na cota dos quase dois metros em alguns pontos. As águas alcançaram as ruas Duque de Caxias, Amaro Leocádio e Praça Santos Dumont, chegando a inundar inclusive o Bar Raiz, Point da boêmia local.
A força do Rio Duas Unas arrancou a antiga Passarela da "Barragem", construída no ano de 1990 pelo prefeito Geraldo Melo. Na outra margem, as águas alcançaram o Parque Jefferson de Freitas, derrubando o muro do local e alcançando a Rua Conselheiro José Felipe. A Rua Jorge Rodrigues ficou inundada, coisa que não acontecia desde 1965. A denominada "Baixinha" ficou submersa e grande foi o estrago causado na Rua Samuel Campelo, também chamada de Rua do Canivete. As travessas da Estrada da Luz e Rua Felipe Camarão também foram atingidas, chegando a água a inundar casas que nunca tinham sido atingidas pela cheia antes.
Antes de se juntar ao Rio Jaboatão, o Duas Unas ainda transbordou sobre a Ponte da Avenida Barão de Lucena, no trecho conhecido como "pescador". As Avenidas Barão de Lucena e Manoel Rabelo foram atingidas, Bem como a Rua Nara Lúcia e suas vizinhas. Mas com a confluência dos dois rios, após a Escola Técnica Estadual, o volume das águas cresceu de forma assustadora. Os bairros de Engenho Velho e de Socorro foram atingidos de foram intensa. As águas alcançaram mais de dois metros na Avenida General Manoel Rabelo, entrando na UPA de Engenho Velho e inundando a Volta do Caranguejo. A ponte da fazenda Vila Natal, onde atualmente se encontra um condomínio, ficou danificada. O centro do bairro de Socorro ficou completamente inundado, inclusive a sede do Batalhão de Infantaria.
As águas seguiram pelos demais bairros cortados pelo rio Jaboatão. Em Dois Carneiros, a cheia arrastou a Ponte do Engenho Santana, deixando uma comunidade de agricultores praticamente ilhada e isolada. A enchente inundou o Loteamento Santa Joana atingindo centenas de casas, alcançando a Avenida Manoel Carneiro Leão que, junto a Fundação Bradesco, ficou debaixo d'água. A Estação Cidadania da prefeitura também foi atingida, bem como centenas de famílias da região.
O Rio Jaboatão ainda causou estragos em vários bairros a jusante: Marcus Freire, Jardim Muribeca, Brasil Novo, Comportas. A ponte da Br 101 em Comportas, logo após a Fábrica Vitarella ficou submersa, impedindo a passagem de veículos por várias horas. Além da enchente, as chuvas provocaram também no mesmo dia vários deslizamentos de barreiras, causando a destruição de várias residências e provocando também dezenas de mortes.
Graças à cheia de 2022, várias ruas e comunidades ficaram completamente destruídas. Vários bairros ficaram sem energia elétrica por alguns dias, enquanto outros chegaram a ficar mais de um Mês sem água nas torneiras, graças ao fato do Rio Duas Unas ter arrancado parte das adutoras. A Rua 13 de maio ficou coberta de entulhos causados pela destruição em várias residências, demorando uma semana para serem retirados pela prefeitura. Muitos moradores perderam completamente suas residências, ficando abrigados em casas de parentes e abrigos disponibilizados pela prefeitura. De todos os municípios do Estado de Pernambuco, Jaboatão dos Guararapes foi o mais prejudicado pelas chuvas, recebendo 359,4 mm de chuvas num único dia, mais que a média de todo o mês, sendo o município com o maior número de vítimas.
Um comentário:
Terrível. Eu achava que a de 2005 tinha sido pesada demais. E foi, né? Mas parece que cada vez o dano é maior porque tem mais gente e em situação mais precária.
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